LIÇÃO 4 – ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E
MÁRTIR
A carta à igreja de Esmirna mostra-nos que a
fidelidade a Deus envolve perseguições neste mundo.
INTRODUÇÃO
- Na continuidade das sete cartas de Cristo às
igrejas da Ásia, estudaremos a segunda carta, encaminhada à igreja de Esmirna.
- Nesta carta, o Senhor Jesus mostra que a vida
cristã é uma vida de perseguições neste mundo, mas que a perseverança é
fundamental para a vitória.
I - O CENÁRIO DA CARTA À IGREJA DE
ESMIRNA
- Prosseguindo o estudo das sete cartas que o
Senhor Jesus mandou enviar às igrejas da província romana da Ásia, que
constitui a parte substancial do estudo proposto pela CPAD para este trimestre
no livro do Apocalipse, estudaremos a segunda carta, a carta encaminhada ao
anjo da igreja e, por conseguinte, à igreja de Esmirna.
- Esmirna, palavra cujo significado é “mirra” ou
“amargura” (o que nos fala de sofrimento), era cidade da província romana da
Ásia, hoje a parte ocidental da Turquia. É uma cidades mais antigas do
Mediterrâneo, tendo sido construída por volta do terceiro milênio antes de
Cristo, compartilhando com Troia a hegemonia da região. Conquistada pelos
lídios por volta do ano 600 a.C., perdeu sua importância até o tempo de
Alexandre, o Grande, quando foi reconstruída, passando a ter grande
desenvolvimento após ser conquistada pelos romanos no século I a.C., sendo esta
a sua situação quando do encaminhamento da carta do Senhor à igreja ali
situada. Atualmente, é a cidade turca de Izmir, a terceira maior cidade da
Turquia, com uma população de mais de 3 milhões de habitantes em 2009, sendo
considerada a cidade mais cosmopolita da Turquia, pois tem grande população de
gregos e armênios, como também a segunda maior colônia judaica da Turquia. É
chamada “pérola do Egeu” e considerada a cidade turca mais ocidentalizada,
razão pela qual é considerada pelos muçulmanos como “uma cidade infiel”. É a
terra natal do poeta grego Homero.
- A tradição, fundada em documentos, considera
que o “anjo da igreja”, ou seja, o pastor da referida igreja era
Policarpo(69-159), um dos discípulos pessoais do apóstolo João, cujo nome
significa “muito frutífero”, demonstrando que a igreja em questão, a começar do
seu pastor, era formada por servos exemplares, pois o servo de Deus exemplar é
aquele que produz muito fruto e fruto permanente (Mt.13: 23; Jo.15:16).
- Policarpo, assim como muitos crentes de
Esmirna, foram martirizados em 159, consoante nos dá conta Eusébio de Cesareia
no capítulo XV do livro 4 de sua História Eclesiástica, onde cita
documento antigo que registra tal martírio, chamado “Martírio de Policarpo”, o
mais antigo registro de um martírio cristão. Policarpo é um dos “pais da
Igreja” e chegou até nós uma epístola que endereçou aos filipenses.
OBS: “…Diz a história que o procônsul
romano, Antonino Pio, e as autoridades civis tentaram
persuadi-lo a abandonar sua fé em sua avançada idade, a fim de alcançar sua
liberdade. Ele entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido Cristo
por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei
que me salvou? Eu sou um crente”!…” (Policarpo de Esmirna. In: WIKIPÉDIA.
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Policarpo_de_Esmirna
Acesso em 12 mar. 2012).
- Para a igreja de Esmirna, o Senhor Jesus Se
identifica como sendo “o primeiro e o último, que foi morto, e
reviveu”(Ap.2:8). Que quis o Senhor Jesus expressar com esta expressão aos
esmirnitas?
- “…Cristo é o primeiro quanto ao tempo e à
importância. Ele é a fonte originária de toda e qualquer vida, seu princípio
mesmo. O fato é de que Cristo é o ‘princípio’ equivale à declaração de que Ele
é o ‘Alfa’. E o fato de ser o ‘Último’ equivale a ser o ‘Ômega’. Ele é o
Princípio e o Fim, O Primeiro e O Último, o ‘a’ e o ‘z’, nós nos encontramos no
meio. Mas Cristo continua a existir! Na qualidade de ser Ele o ‘último’ pode-se
dizer o seguinte sobre Cristo: (a) Ele é a razão mesma da existência; (b) Ele é
o princípio da vida após a morte; (c) Ele é o alvo de toda a existência, o
Ômega.…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo.
3. ed., p.35).“…O Senhor Se apresenta como o primeiro e o último. O Pai da
Eternidade (Is.9:6; Sl.90:2), sendo Ele o Deus Eterno, que, humanizado, foi
perseguido até a morte…” (OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o
Apocalipse: o livro da revelação, p.16).
- Como podemos notar, pois, o Senhor Jesus Se
identifica como o “primeiro e o último” para dar àquela Igreja a certeza de que
Ele é Deus, de que Ele é eterno e que, portanto, vale a pena sofrer todas as
agruras neste mundo passageiro pelo nome de Cristo. Não há, mesmo, como
suportar as perseguições e as aflições do tempo presente se não tivermos a
dimensão da eternidade, se não lembrarmos que fomos chamados para viver para
sempre com o Senhor e que tudo o que aqui passamos, nesta vida, é passageiro e
fugaz.
- Quando Jesus Se identifica como “primeiro e
último”, está a nos dizer que Ele é Deus, Ele é a razão mesma da existência,
Ele é o “Auto-Existente”, ou seja, “Aquele que é o que é”, precisamente a forma
como a Divindade Se identificou para Moisés (Ex.3:14), oportunidade em que se
revelou a Israel o que é a divindade, a saber, o senhorio sobre as todas as
coisas criadas, o único Criador, Aquele que tem todo o poder.
OBS: Por isso, aliás, razão alguma têm as
Testemunhas de Jeová ao quererem negar a Cristo a divindade, pois Ele mesmo Se
proclama como “Auto-Existente”, como YHWH (Yahweh, Javé ou Jeová), uma das
Pessoas Divinas do “Deus Jeová triúno”, como nos declama o poeta sacro Reginald
Heber(1723-1826) no hino 9 do Cantor Cristão.
- Sem termos a convicção de que Jesus é Deus, não
poderemos dar nossas vidas por Ele. Sem ter a convicção de que Jesus é o Verbo
que sempre existiu (Jo.1:1), jamais poderíamos adorá-l’O e, nesta adoração,
inclusive enfrentar a morte. É esta convicção que falta àqueles que, diante das
dificuldades desta vida, retrocedem na jornada da fé e acabam por morrer espiritualmente
(Mt.13:20,21).
- Tal convicção exige de cada um de nós o
aprofundamento na Palavra de Deus e na vida espiritual, pois só assim teremos
raízes capazes de nos impedir o fracasso espiritual. Não é por outro motivo que
o inimigo de nossas almas tem buscado, de todas as maneiras, que os que
cristãos se dizem ser sejam levados, na atualidade, a ter uma vida espiritual
superficial e frívola. Temos cuidado para nos arraigarmos na fé em Cristo
Jesus, tendo plena consciência de Sua Divindade?
- Mas o Senhor Jesus também Se identifica como
tendo sido Aquele “que foi morto e reviveu”. É indispensável que tenhamos
consciência da Divindade de Cristo, mas também precisamos, para bem vencermos
as aflições do mundo em nossa peregrinação terrena, ter consciência de que “o
Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo.1:14 “in initio”), ou seja,
estarmos convictos de que Jesus, que é Deus, fez-Se homeme, como homem,
permanece até a presente data.
- Ao dizer que “foi morto e reviveu”, o Senhor
Jesus está dizendo à igreja de Esmirna que Ele próprio sofreu, como homem,
todas as dificuldades, todos os problemas, todas as perseguições e todas as
tentações que nós agora estamos a padecer em nossa passagem pela Terra. Ele
também viveu entre nós, por trinta e três anos, tendo padecido todas as coisas,
mas vencido o pecado e o mal.
- Esta consciência devemos ter porque Jesus,
apesar de ser Deus, nos entende em tudo o que passamos, porque Ele também
passou pelas vicissitudes da peregrinação terra. Como disse o escritor aos
hebreus, “e visto como os filhos participam da carne e do sangue, também Ele
participou das mesmas coisas, para que, pela morte, aniquilasse o que tinha o
império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte,
estavam por toda a vida sujeitos à servidão, porque, na verdade, Ele não tomou
os anjos, mas tomou a descendência e Abraão. Pelo que convinha que, em tudo,
fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote
naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que Ele
mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.”
(Hb.2:14-18).
- O próprio Senhor Jesus disse que a Sua
perseguição até a morte é um exemplo para nós, Seus servos. “Se o mundo vos
aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se vós fôsseis
do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes Eu
vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da
palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim Me
perseguiram, também vós perseguirão a vós; se guardaram a Minha palavra, também
guardarão a vossa. Mas isto tudo vos farão por causa do Meu nome; porque não
conhecem Aquele que Me enviou.” (Jo.15:18-21). “…Sendo Ele o Deus Eterno, que humanizado,
foi perseguido até a morte. O que esteve morto e tornou a viver. Isto quer
dizer que Ele teve vitória completa sobre todo tipo de perseguição; até mesmo
sobre a própria morte…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.16).
- Assim, tão importante quanto a Divindade de
Cristo, é termos consciência de Sua humanidade, pois é esta vida repleta de
tentações, provações e perseguições que nos dá o exemplo para que sigamos as
pisadas de Jesus neste mundo (I Pe.2:21), igualmente suportando as afrontas
para, também, desfrutarmos do gozo que estava proposto ao Senhor Jesus e que,
também, está prometido para nós (Hb.12:2,3). Quando olhamos para o Senhor
Jesus, para a Sua peregrinação terrena, ganhamos força e estímulo para, também,
vencermos o mundo. Por isso, o Senhor Jesus diz que venceu o mundo, pois a Sua
vitória, como homem, é um “fortificante” para nossas vidas espirituais
(Jo.16:33).
- Para uma igreja caracterizada pelo sofrimento,
pela perseguição, pela constante luta contra os inimigos de Deus, o Senhor Jesus
tinha de Se revelar, de Se identificar tanto como Deus, tanto como Homem. Não é
à toa que, ao longo da história da Igreja, não tenham sido poucos os falsos
mestres que tenham posto em dúvida seja a Divindade, seja a Humanidade de
Cristo Jesus, pois a exata compreensão da dupla natureza do Senhor tem um papel
fundamental para que o cristão suporte as afrontas e as aflições e permaneça
fiel até a morte.
- A lembrança da humanidade de Cristo vem por
meio de dois episódios fundamentais no ministério terreno de Jesus: a Sua morte
e a Sua ressurreição. Quando lembramos que Cristo morreu, lembramos, por
conseguinte, que Ele Se fez homem e que Se ofereceu por nós. Deus não morre,
mas o homem é mortal e, por isso, ao morrer, Jesus denuncia toda a Sua humanidade.
- Mas, além da morte, a humanidade de Cristo
revela-se, também, em Sua ressurreição. Quem ressuscitou foi o homem, pois só o
homem morreu, mas esta ressurreição é, também, a garantia que temos da parte de
Deus da vitória de Cristo sobre a morte e da aceitação do Seu sacrifício
vicário. Porque Cristo ressuscitou, a nossa fé e a nossa pregação não são vãs
(I Co.15:14,17) e podemos ter a certeza de nossa salvação e da vida eterna.
- Por isso, o Senhor instituiu a ceia a fim de
que sempre rememoremos que Ele morreu mas ressuscitou e, por isso, temos livre
acesso ao Pai, desfrutamos da comunhão com Ele, que nada mais é que a vida
eterna e, portanto, nada nos pode separar do amor de Deus que está em Cristo
Jesus (Rm.8:33-39).
- Nos dias difíceis em que estamos a viver,
torna-se imperioso, indispensável que cada salvo em Cristo Jesus tenha a noção
exata do que representa a morte e ressurreição de Cristo. Esta é a garantia de
nossa fé, de nossa vitória sobre o pecado e o maligno. Porque Cristo
ressuscitou, sabemos que a Verdade é Jesus; porque Cristo ressuscitou, temos
certeza de que podemos viver em santidade e perseverar até o fim. Porque Cristo
ressuscitou, sabemos que o mal e o pecado não podem dominar as nossas vidas.
Que bom seria se todo crente tivesse esta convicção!
II – O EXAME DAS QUALIDADES DA IGREJA DE ESMIRNA
PELO SENHOR JESUS
- Após esta apresentação em que o Senhor rememora
Sua dupla natureza aos esmirnitas, vem a afirmação que reforça esta soberania
do Senhor sobre a Igreja: “Eu sei as tuas obras”, que se repete em todas as
sete cartas.
- No entanto, Esmirna tem um relatório
extremamente positivo. Juntamente com Filadélfia, faz parte do grupo de duas
igrejas onde o Senhor Jesus não aponta qualquer defeito, apenas qualidades.Como
o Senhor Jesus é imparcial, isto nos mostra que se trata de uma igreja
irrepreensível, ou seja, que não tem o que ser censurado, o que ser
repreendido.
- Isto não significa que a igreja de Esmirna
fosse perfeita. Nós, crentes, somente atingiremos a perfeição no dia de nossa
glorificação, quando nos encontrarmos com o Senhor nos ares, quando, então,
adquiriremos a estatura de varão perfeito, a estatura completa de Cristo
(Ef.4:13).
- Entretanto, embora não seja possível que
atinjamos a perfeição agora, é requerido de nós que sejamos irrepreensíveis, ou
seja, que não sejam achados em falta diante do Senhor, que não sejamos objeto
de censura por parte de Deus. Foi isto, aliás, que o Senhor exigiu de Abrão
(Gn.17:1), precisamente quando lhe mudou o nome para Abraão. Aqui a palavra utilizada
no hebraico é “tamyim” (תמי),
cujo significado, segundo o Dicionário VINE, é mais amplo, “…serve para
descrever atividades humanas externas e estados de ânimo internos que Deus não
condena…” (edição em espanhol da Ed. Caribe, disponível em www.semeadoresdapalavra.net, p.272)
e que, por isso, é traduzida na Nova Versão Internacional e na Bíblia de
Jerusalém por “íntegro”, ou seja, alguém que está servindo inteiramente ao
Senhor. É precisamente isto que ocorria tanto em Esmirna quanto em Filadélfia.
- A primeira característica que o Senhor Jesus
aponta para a igreja de Esmirna é a tribulação(Ap.2:9). Esmirna realizava as
suas obras em meio à tribulação. Esmirna é a prova viva de que, ao contrário do
que ensinam os falsos mestres da teologia da confissão positiva ou da teologia
da prosperidade, o sofrimento nada tem que ver com pecado. A igreja de Esmirna
servia inteiramente ao Senhor e, nem por causa disso, estava livre da
tribulação. Como ensinava já o apóstolo Paulo às igrejas que fundara em sua
primeira viagem missionária: “…por muitas tribulações nos importa entrar no
reino de Deus” (At.14:22).
- A tribulação é uma constante na vida da Igreja,
máxime quando ela é fiel ao Senhor, visto que a fidelidade a Deus importa em
desconsideração dos valores mundanos e pecaminosos. Quando nos tornamos amigos
de Deus, “ipso facto”, nos tornamos “inimigos do mundo’ (Tg.4:4). “…No grego
clássico, tribulação é ‘thlipsis’, significa ‘pressão’, ‘opressão’, derivado de
‘thlibo’, que tem o sentido geral de ‘pressionar’, ‘afligir’ etc. Nas páginas
do Novo Testamento, em sentido comum, (…) tem o sentido de ‘perseguição’
deflagrada por aqueles que são aqui, na Terra, inimigos do povo de Deus…”
(SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.35).
- A igreja de Esmirna confessava a Cristo, ou
seja, não negava que pertencia ao Senhor Jesus, não deixava de seguir as Suas
pisadas e, por causa disso, vivia em tribulação, era objeto da fúria e da
oposição do adversário de nossas almas. Temos vivido em oposição ao pecado e ao
mundo assim como a igreja de Esmirna?
- Outra característica que o Senhor Jesus aponta
na igreja de Esmirna é a sua pobreza(Ap.2:9). A igreja de Esmirna era uma
igreja pobre, mas isto tem de ser entendido no sentido material, pois o próprio
Jesus diz que, apesar da pobreza, a igreja de Esmirna era rica. A igreja de
Esmirna não tinha posses materiais, até porque seus bens foram confiscados
pelos perseguidores, sendo certo, ainda, que, com a prisão de muitos crentes,
normalmente os pais de família, era natural que as famílias padecessem
carências materiais para sua sobrevivência.
- A pobreza material dos cristãos não é,
portanto, ao contrário do que ensinam os falsos mestres da teologia da
prosperidade, qualquer demonstração de desvio ou fraqueza espirituais. Pelo
contrário, a igreja de Esmirna, que não recebe qualquer reprimenda do Senhor
Jesus, foi apresentada como uma igreja materialmente pobre, apesar e por causa
de sua fidelidade ao Senhor.
- Ao longo da história da Igreja, são
comuníssimos os casos em que se verifica a presença de uma igreja fiel ao
Senhor mas que era materialmente pobre, sem qualquer influência política ou
econômica na sociedade onde vivia, o que, não raras vezes, fez com que tais
movimentos fossem “ignorados” pela história. Por isso até, muitas vezes, se tem
uma falsa ideia a respeito do que era o “Cristianismo” numa determinada época
ou de que houve intervalos temporais em que “tudo estava perdido”, em que
“houve total apostasia”, impressão esta que não deve, em absoluto, ser tida
como verdade, pois, sempre, durante todo o tempo, o Senhor teve aqueles “sete
mil que não dobraram seus joelhos para Baal”, anônimos, ignorados, precisamente
por serem “pobres”.
- Mas além desta pobreza material, o texto permite-nos
também entender que se está diante da “pobreza de espírito” de que fala o
Senhor Jesus no sermão do monte, ou seja, na consciência da dependência em
relação a Deus, da condição de servo. É interessante notar que, segundo o
relato do martírio de Policarpo, o “anjo da igreja de Esmirna”, é dito que foi
oferecido ao velho e quase centenário pastor a oportunidade de negar a Cristo
para se livrar da morte, tendo ele respondido ao procônsul romano que lhe fez
tal proposta o seguinte:“Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez
nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um
crente!” Estas palavras revelam que Policarpo tinha plena consciência de que
Jesus era o Senhor e Rei de sua vida e que ele tudo devia ao Senhor, ou seja, o
velho bispo de Esmirna sabia que “era pobre e necessitado, mas que o Senhor
dele cuidava” (Sl.40:17a).
- Em contraste com esta pobreza material, o
Senhor Jesus atesta que a igreja de Esmirna era rica, ou seja, tinha as
riquezas espirituais, o que nos faz lembrar o que o apóstolo Paulo dissera a
respeito da igreja de Corinto, que fora descrita como enriquecida em Cristo,
“em toda a palavra e em todo o conhecimento (como foi mesmo o testemunho de
Cristo confirmado entre vós) de maneira que nenhum dom vos falta, esperando a
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Co.1:5-7).
- Pelas palavras do apóstolo Paulo aos coríntios,
palavras inspiradas pelo Espírito Santo, podemos entender que a riqueza da
igreja de Esmirna era, também, o fato de ser uma igreja que havia se
enriquecido em Jesus Cristo, que prezava pela Palavra de Deus, pelo
conhecimento do Senhor, ou seja, por uma busca de intimidade crescente com
Cristo Jesus, inclusive pela aquisição das bênçãos espirituais, com destaque
para o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais.
- Além disto, a riqueza espiritual da igreja de
Esmirna estava na exata compreensão da eternidade de Cristo e, assim, do
caráter passageiro da nossa peregrinação terrena, de forma a que era uma igreja
levada, a exemplo dos coríntios, a dar o importante realce e relevância, em sua
vida espiritual, da esperança da manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, ou
seja, era uma igreja que não desprezava mas dava o devido valor ao aguardo da
volta de Cristo.
- Para não sermos repreendidos pelo Senhor,
precisamos ter esta mesma característica da igreja de Esmirna. É imprescindível
que alcancemos as riquezas espirituais. Precisamos ter a “pobreza de espírito”,
ou seja, manifestarmos em nossa vida que somos dependentes do Senhor,
obedientes à Sua vontade, como também sermos espiritualmente ricos, passando a
tomar posse das bênçãos espirituais que já nos foram dadas pelo Senhor Jesus
(Ef.1:3).
- Temos aqui uma situação diametralmente oposta a
que veremos quando do estudo da sétima carta, endereçada à igreja de Laodiceia.
Lá há uma igreja que se diz rica, mas que é pobre (Ap.3:17); aqui, em Esmirna,
temos uma igreja que é tida como pobre, mas que é rica. A igreja de Esmirna não
recebeu qualquer repreensão do Senhor, enquanto que a igreja de Laodiceia,
nenhum elogio. A que igreja nós pertencemos?
- Outra característica apontada pelo Senhor Jesus
para a igreja de Esmirna é “a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são,
mas são a sinagoga de Satanás”(Ap.2:9). A igreja de Esmirna sofria a oposição
de um grupo chamado de “sinagoga de Satanás”.
- Parece-nos que o Senhor Jesus vê, na igreja de
Esmirna, uma certa perplexidade dos crentes com relação a algumas pessoas
religiosas, extremamente devotas, em especial os judeus que ali habitavam. Não
compreendiam os esmirnitas porque tais pessoas resistiam tanto ao Evangelho e o
Senhor Jesus os ensina que tais pessoas, apesar de serem religiosas, eram, na
verdade, blasfemas, ou seja, ofendiam diretamente a Deus com seu comportamento
e, por isso, se opunham aos servos de Cristo. Na verdade, a suposta piedade que
aparentavam ser era ilusória: não eram “judeus”, mas, sim, eram a “sinagoga de
Satanás”!
- Temos aqui mais uma demonstração da fidelidade
da igreja de Esmirna. Esta expressão “sinagoga de Satanás” só aparece duas
vezes nas Escrituras, as duas no livro do Apocalipse e, precisamente, nas duas
cartas a igrejas que não são repreendidas pelo Senhor, ou seja, nas cartas a
Esmirna e a Filadélfia. Assim, a primeira coisa que percebemos é quesó há “sinagoga
de Satanás” nas igrejas que são plenamente fiéis ao Senhor.
- Mas, o que é a “sinagoga de Satanás”? Diz o
pastor José Serafim de Oliveira que são “…os religiosos que queriam introduzir
na igreja conceitos da religião humana. Na época, os judaizantes desejavam
arrastar os crentes aos padrões da antiga lei judaica que o Senhor já havia
encravado na cruz (Cl.2:13,14)…” (op.cit., p.17). Vimos que, mesmo quase dois
mil anos depois, os judeus ainda têm em Esmirna uma grande colônia.
- Mas aqui a “sinagoga de Satanás” não representa
os judeus que se opunham aos cristãos em Esmirna, mas, pelo contrário, os que
se diziam “judeus”, isto é, pessoas que afirmavam ser religiosas, adeptas do
judaísmo, mas que, na verdade, eram apenas a “sinagoga de Satanás”. Temos aqui
um grupo introduzido no meio dos crentes de Esmirna, mas que, diante da
sinceridade daquela igreja, não conseguiam ficar unidos aos crentes autênticos
e que se opunham à vida espiritual íntegra daqueles cristãos.
- A “sinagoga de Satanás” é o grupo dos
religiosos que se opõem ao Evangelho de Cristo Jesus, assim como os fariseus e
saduceus se opuseram a Jesus em Seu ministério terreno. Os religiosos sempre
são adversários da igreja porque eles apresentam um conceito completamente
oposto ao Evangelho de Jesus Cristo. Enquanto a religião é uma fórmula humana
para se religar o homem a Deus, o Evangelho é uma fórmula divina para se
religar Deus ao homem, algo que somente pode ser feito por intermédio da fé em
Cristo Jesus, Deus que Se fez homem e morreu por nós para nos salvar.
- A “sinagoga de Satanás”, portanto, nada mais é
que um grupo de religiosos que buscam, de todas as formas, impor ao Evangelho
conceitos humanos, completamente alheios à Palavra de Deus. A verdadeira e
genuína igreja é hostilizada pelos “religiosos”, pois representa a própria
negação dos conceitos defendidos pelas religiões humanas.
- Ao longo da história da Igreja, não foram
poucos os cristãos que foram, e são, perseguidos por “religiosos”. Nos dias
hodiernos, podemos ver, claramente, que um dos principais focos da perseguição
contra os cristãos provém de lideranças e movimentos religiosos, com destaque
para o islamismo, a religião que mais tem crescido nos últimos tempos no
planeta. A religiosidade pagã durante o tempo do Império Romano; a
“religiosidade romanista” na Idade Média e a “religiosidade ateísta
marxista-leninista” no século XX foram outros grandes nomes perseguidores da
Igreja.
- Watchman Nee, em seu livro A ortodoxia na
Igreja, identifica na “sinagoga de Satanás” quatro conceitos que
contrariam o Evangelho de Cristo Jesus, caracterizando esta religiosidade que
se opõe à Igreja, a saber: a adoração externa, a vida por regulamentos
externos, a distância entre Deus e adoradores e a busca de bênçãos nesta Terra.
- Os “falsos judeus” buscam sempre “um templo
para adorar a Deus”. Uma das características da religiosidade humana é a
procura de “um lugar para adoração”. A adoração faz-se num determinado local,
depende de circunstâncias externas para se realizar. Entretanto, o Evangelho
diz que a adoração se dá em espírito e em verdade (Jo.4:23,24), onde cada
crente é “templo do Espírito Santo” (I Co.6:19). A adoração é interior e
acompanha a cada um de nós, estejamos, ou não, num lugar designado para nos
reunirmos em nome do Senhor.
OBS: Sabemos que daí Watchman Nee faz a defesa de
sua tese da “igreja local”, que é herética, mas não é por isso que iremos
desconsiderar esta sua análise que é exata, ou seja, de que a adoração é
interior, ainda que isto não signifique que não se deva ter locais para a
adoração coletiva.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja a
idolatrar “templos” em nosso meio. Há, na verdade, uma verdadeira competição
pela construção de “megatemplos” entre muitos que cristãos se dizem ser, numa
inversão de prioridades que preocupa e revela a presença de muitos da “sinagoga
de Satanás” em nosso meio. É evidente que precisamos de templos para acomodar o
povo de Deus, para que se possa adorar a Deus e centralizar as atividades da
Igreja, mas daí a se dar prioridade a isto, há uma grande distância e se trata
de um comportamento que não deve, em absoluto, estar presente no meio dos
cristãos que não querem ser censurados pelo Senhor. Vigiemos, amados irmãos!
- Os “falsos judeus” buscam sempre “uma vida por
regulamentos externos”. Uma das características dos religiosos é criar um
sistema de regras de observância, à moda da lei de Moisés, esquecidos, porém,
que a lei de Moisés servia apenas de “aio” até a vinda de Cristo (Gl.3:24,25) e
que, a partir de agora, temos leis inscritas nas tábuas do nosso coração (II
Co.3:2,3). E, pior, há aqueles que, em vez de quererem impor a lei de Moisés,
criam outros regulamentos, verdadeiros mandamentos de homens, querendo, com
isto, escravizar as pessoas (Mc.7:7; Tt.1:14). Quem assim age prega uma
salvação pelas obras, esquecidos de que a salvação vem pela graça.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja criando
dezenas e dezenas de “mandamentos de homens” para “complementar” a sã doutrina.
Recentemente, o pastor presidente da CGADB, José Wellington Bezerra da Costa,
disse, em reunião de obreiros, que há muitos que estão seduzidos pelos
“regimentos internos”, querendo criar normas e mais normas para observância do
povo de Deus, como se a Bíblia fosse insuficiente. É a “sinagoga de Satanás”
quem gosta de “legalismo”. Fujamos destas coisas, amados irmãos!
- Os “falsos judeus” buscam sempre uma “distância
entre Deus e adoradores”. Uma das características das religiões humanas é a
constituição de um “sacerdócio”, de uma “classe mediadora” entre Deus e os
fiéis. Com a vinda de Cristo, Ele nos fez “reis e sacerdotes para Deus e Seu
Pai” (Ap.1:6), não havendo mais mediador entre Deus e os homens senão Jesus
Cristo homem (I Tm.2:5; Hb.12:24). Aqui, vemos que os “falsos judeus” dão as
mãos para os “nicolaítas”, mencionados pelo Senhor Jesus na carta à igreja de
Éfeso.
- Não falta, em nossos dias, quem esteja querendo
criar, no meio da Igreja, uma distinção entre “clero” e “laicato”, como existem
em algumas organizações religiosas. Já há quem defenda que o crente confesse
seus pecados ao pastor em vez da igreja, como se o pastor fosse um “sacerdote”!
Já existem os que acham que quem tem que ter compromisso com a igreja são os
obreiros, podendo haver crentes descompromissados, “crentes não-praticantes”,
que se limitariam a assistir aos cultos, e, mesmo assim, os cultos dominicais.
Tomemos cuidado, amados irmãos, com tais conceitos dos integrantes da “sinagoga
de Satanás”.
- Os “falsos judeus”, por fim, estão interessados
na obtenção de bênçãos para esta Terra, seu alvo não é mais o céu nem a vida
eterna, mas uma vida terrena regalada e abençoada. Esperam em Cristo somente
para esta vida, sendo, por isso mesmo, os mais miseráveis de todos os homens (I
Co.15:19). Exaustivamente, vimos, no trimestre anterior, como a teologia da
prosperidade tem sido este verdadeiro arauto da “sinagoga de Satanás”. Tomemos
cuidado, amados irmãos!
III – AS PALAVRAS DO SENHOR JESUS PARA A IGREJA
DE ESMIRNA
- Após ter indicado as características da igreja
de Esmirna, o Senhor Jesus passa a proferir algumas palavras para ela,
predizendo o que iria acontecer, a fim de manter a firmeza demonstrada por
aqueles crentes, em especial pelo pastor do rebanho do Senhor ali.
- Por primeiro, diz o Senhor Jesus que a
tribulação prosseguiria, mas que não deveria haver temor por parte daqueles
crentes. Diante de tantas qualidades, não seria de se esperar que o Senhor lhes
prometesse o fim de tudo aquilo, uma época de bonança e de triunfo? Não, não e
não! Aquela igreja sabia que, no mundo, somente teremos aflições, mas seu alvo
não era este mundo, eles não tinham se deixado iludir pela “sinagoga de
Satanás” e, por isso, não ambicionavam coisas desta vida, mas única e
exclusivamente “as coisas de cima” (Cl.3:1-4).
- Por isso, o Senhor Jesus pôde lhes falar abertamente
que a tribulação prosseguiria e até se intensificaria. Eles não precisavam
temer o que estavam para sofrer. O Senhor permitiria que o diabo lançasse
alguns deles na prisão para que fossem tentados (Ap.2:10).
- Mas por que Jesus permitiria uma coisa dessas?
Seria Ele um sádico, alguém que gosta de ver crentes sofrer? Não, não e não! O
Senhor Jesus permitiria a prisão e morte de alguns crentes única e
exclusivamente pelo amor que tinha em relação à humanidade. A igreja de Esmirna
padeceria para que muitas almas mais fossem salvas, pois, como já tivemos
ocasião de dizer em lição anterior, o “sangue dos mártires é semente de novos
cristãos”. A fidelidade de Esmirna era tanta que o Senhor queria fazer com que
a morte, que os esmirnitas não temiam, fosse mais um fator para salvação das
almas, premiando, ainda mais, o esforçado evangelismo daqueles crentes.
- Nesta afirmação, ainda, o Senhor Jesus mostra à
Sua Igreja a real origem de todo e qualquer movimento de perseguição à Igreja:
o diabo. Toda e qualquer perseguição, evidente ou indireta, tem sua origem no
inimigo de nossas almas. Não devemos, pois, nos iludir quanto aos compromissos
de todo segmento, movimento ou liderança que tem, por finalidade, perseguir a
Igreja do Senhor.
- A perseguição serve para o crente como uma
“provação”, sendo este o sentido da expressão “tentados” que se encontra em
Ap.3:10, traduzido na Bíblia de Jerusalém por “serdes postos à prova”. A
“provação” tem por finalidade fazer com que os servos de Cristo sejam
“aprovados”, ou seja, fazer com que a fé de cada um se ache em louvor, e honra,
e glória, na revelação de Jesus Cristo (I Pe.1:7), i.e., que a nossa fé seja
aperfeiçoada a fim de que alcancemos, na nossa glorificação, o devido estágio
reservado para nós. Trata-se, pois, de um bem, não de um mal para cada um de
nós. Entendamos isso e nos consolemos com estas palavras. A conversão de almas
que sempre segue à perseguição mostra, claramente, como a perseguição nos traz
a aprovação em Cristo, a ponto de haver a máxima frutificação pelo nosso
serviço ao Senhor.
- O Senhor também informou à igreja de Esmirna
que ela sofreria “uma tribulação de dez dias”,expressão que alguns estudiosos
das Escrituras interpretam como sendo “uma tribulação de curta duração”. Em se
pensando assim, o que se tem aqui é a afirmação do Senhor de que toda
tribulação é passageira, pois está sujeita ao tempo e a dimensão da vida
terrena, enquanto que o gozo que nos está reservado é eterno. A dimensão da
eternidade, a que o Senhor já aludira na Sua identificação no início da carta,
é mais uma vez realçada aqui. Por mais longa que possa parecer a perseguição, a
vida de aflições, tudo é “de curta duração” quando comparamos com a glória que
há de ser revelada para nós, com a dimensão da eternidade. Como diz o poeta
sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Nada aqui é permanente,
tudo tem que terminar, mas olhamos para a frente, para o nosso eterno lar”
(segunda estrofe do hino 215 da Harpa Cristã).
- Outros estudiosos entendem que a “tribulação de
dez dias” mencionada pelo Senhor Jesus diz respeito, também, às dez grandes
perseguições que a Igreja sofreu durante o Império Romano. Com efeito, desde o
momento em que o governo romano passou a perseguir a Igreja, tivemos, até a
promulgação do “Édito da Tolerância” de 312, em Milão, pelo imperador romano
Constantino, documento que põe fim às perseguições romanas contra os cristãos,
dez grandes perseguições, a saber: Nero (64-68), Domiciano (68-96), Trajano
(04-117), Marco Aurélio (161-180), Severo (200-211), Máximo (235-237), Décio
(250-253), Valeriano (257-360), Aureliano (270-275) e Diocleciano (303-312).
- Estas grandes perseguições não retiram outras
perseguições sofridas pelos cristãos durante o Império Romano, perseguições
menores, localizadas e efetuadas por autoridades menores do Império. Estas dez,
porém, foram caracterizadas por terem sido decididas pelos próprios imperadores
e, embora nem todas tenham tido abrangência em todo o Império, foram
generalizadas. A pior das perseguições, aliás, foi, exatamente, a última,
empreendida por Diocleciano, que abrangeu todo o Império.
- Por isso, aliás, dentro da perspectiva
futurista de que cada igreja da Ásia corresponde a um período da história da
Igreja sobre a face da Terra, há a identificação da igreja de Esmirna com o
período das grandes perseguições romanas, ou seja, com o chamado “período do
martírio” que se iniciaria por volta de 159, com o martírio de Policarpo de
Esmirna e de diversos crentes daquela igreja e iria até 312, quando termina a
perseguição romana contra os cristãos.
- Este período teria sido um período em que, para
enfrentamento da perda do primeiro amor que teria caracterizado o período
anterior, chamado pós-apostólico, que teria durado entre 100 e 159, o Senhor
teria permitido a perseguição cruenta dos romanos como forma de impedir o
desvio espiritual da Igreja e possibilitando que a falta de empenho
evangelístico se compensasse com o aumento de conversões por intermédio do
martírio. É também desta época o surgimento da “sinagoga de Satanás”, ou seja,
daqueles que procuravam, ainda sem êxito, levar para o Cristianismo conceitos
religiosos mundanos.
OBS: Entre os episódios que denunciam a presença
da “sinagoga de Satanás”, uma característica desta época estariam a questão
surgida com os “donatistas”, seguidores de Donato (?-355), bispo da Numídia e,
depois, de Cartago, que não admitia o retorno à Igreja dos que negavam a Cristo
nas perseguições, nem aceitava a validade dos sacramentos ministrados por tais
“traidores”, como também os próprios “gnósticos”, cujas ideias levavam ao
reconhecimento de um “sacerdócio” entre os cristãos.
- Na perspectiva de que cada igreja da Ásia
representa um tipo de crente, temos aqui a figura da “igreja perseguida”, uma
igreja cada vez mais numerosa em nosso planeta, nestes dias difíceis que
antecedem a volta do Senhor, cujos sinais estão praticamente todos cumpridos,
inclusive o da intensificação da perseguição (Mt.24:9; Lc.21:12). Hoje, em cada
três crentes, um não tem liberdade para adorar ao Senhor no mundo.
- A “igreja perseguida” deve ser constantemente
lembrada em nossas orações e temos de nos esforçar para ajudar os nossos irmãos
que não têm o privilégio que ainda temos, no Brasil, de adorar a Deus sem
restrições, ainda que o Brasil já tenha passado a figurar entre os países que
também perseguem o Evangelho de Jesus Cristo. Participemos dos esforços de
organizações como a “Missão Portas Abertas” (http://www.portasabertas.org.br),
que têm ajudado os cristãos perseguidos e nos empenhemos para que esta igreja,
tão querida pelo Senhor Jesus, tenha o nosso apoio. Dentre as iniciativas
interessantes para tanto, temos o “Domingo da Igreja Perseguida”, que é o
primeiro domingo após o Domingo de Pentecostes, quando toda a igreja pode ser
mobilizada em prol da “igreja perseguida”. Em 2012, o “Domingo da Igreja
Perseguida” será no dia 3 de junho e maiores informações poderão ser obtidas no
site http://www.domingodaigrejaperseguida.org.br.
IV – A PROMESSA DE VITÓRIA FEITA À IGREJA DE
ESMIRNA
- O Senhor Jesus, após ter predito aos crentes de
Esmirna o sofrimento que estava por vir, foi enfático ao ordenar aos Seus
servos: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap.2:10 “in fine”).
- Apesar do sofrimento que era predito, o Senhor
Jesus ordenou à igreja de Esmirna que mantivesse a sua fidelidade: “sê fiel até
a morte”. A salvação é um processo que somente termina com a nossa passagem
para a eternidade, seja pela morte física, seja pelo arrebatamento da Igreja,
se estivermos vivos naquela ocasião (I Co.15:51,52; I Ts.4:17). A salvação
depende de nossa perseverança até o fim (Mt.24:13).
- Quando fazemos a nossa profissão de fé, por
ocasião do batismo nas águas, somos levados a assumir o compromisso de sermos
fiéis ao Senhor até a morte. Temos cumprido tal compromisso, amados irmãos? O
Senhor Jesus exige de cada um de nós a fidelidade até a morte, aconteça o que
acontecer, haja a tribulação e o sofrimento que houver.
- Àqueles que forem fiéis até a morte, o Senhor
Jesus promete dar “a coroa da vida”. O pastor José Serafim de Oliveira entende
que “a coroa da vida” é “a verdadeira vida eterna. Não apenas a vida biológica,
animal, mas a vida espiritual, a verdadeira vida que não envelhece, que não se
deteriora: VIDA DE DEUS.…” (op.cit., p;.17).
- O martírio é, sem dúvida, uma demonstração
eloquente da fé em Cristo Jesus, uma ação que leva a fidelidade ao limite
máximo. Entendem, pois, alguns que “a coroa da vida” se apresenta como um
galardão, um prêmio reservado a estes que, imitando o Senhor Jesus, deram suas
vidas para fazer a vontade de Deus. Trata-se de um privilégio que se concede a
alguns crentes de serem ainda mais semelhantes ao Senhor Jesus em sua peregrinação
terrena.
- Esta deferência especial aos mártires encontra
respaldo no relato bíblico do primeiro martírio, o de Estêvão, quando nos é
indicado que, para receber o Seu servo nos céus, o Senhor Jesus ficou de pé, em
nítido sinal de reconhecimento do gesto praticado por aquele eloquente diácono
(At.7:55,56).
OBS: Advém daí a crença de que os mártires
ingressam diretamente na glória e que poderiam, assim, interceder pelos crentes
junto ao Senhor, motivo por que, entre os católicos romanos, ortodoxos e anglicanos,
havendo prova de que alguém foi mártir, isto é suficiente para a sua
canonização ou beatificação. À evidência, porém, sabemos que não podem os
mortos interceder pelos vivos.
- Por fim, após a advertência de que os que têm
ouvidos ouçam o que o Espírito Santo diz às igrejas (Ap.2:11), expressão que,
conforme já vimos na lição anterior, significa que o que o Senhor Jesus disse à
igreja de Esmirna se aplica a todos os crentes, de todas as igrejas locais, de
todas as épocas, o Senhor faz a promessa de vitória desta carta, a saber: “Ao
que vencer não receberá o dano da segunda morte”.
- Aqui, em perfeita consonância com a Sua
identificação no início da carta, o Senhor lembra os crentes de Esmirna que,
embora eles tivessem de morrer fisicamente por causa do Evangelho, eles estavam
livres da “segunda morte”, que é a morte espiritual, a morte que sobrevirá a
todos quantos não receberem a Cristo Jesus como Senhor e Salvador e que, por
isso, serão condenados no juízo do trono branco, que ocorrerá após o fim da história
da humanidade (Ap.20:14).
- O Senhor Jesus lembra aos esmirnitas que a
morte física decorrente da perseguição e da manutenção da fidelidade nada
representa para o crente. A morte física, por primeiro, não afeta a vida eterna
recebida quando da salvação, pois o crente, na verdade, não morre, porque morte
significa separação e nem a morte nos pode separar do amor de Deus que está em
Cristo Jesus (Rm.8:38,39).
- Por segundo, a morte física, para o crente, é
algo passageiro, pois, quem morrer em Cristo há de ressuscitar no dia do
arrebatamento da Igreja (I Ts.4:13-16). Assim como a tribulação e o sofrimento,
a morte física, para os crentes fiéis, é algo passageiro, que findará no dia em
que o Senhor vier buscar a Sua Igreja.
- Por terceiro, a verdadeira morte, a morte
espiritual, ou seja, a separação eterna de Deus é algo completamente
desconhecido e retirado da vida do crente fiel. O Senhor Jesus diz que o crente
fiel não receberá o dano da segunda morte, não estará sequer no juízo do trono
branco, onde tal morte será sentenciada aos impenitentes. O crente fiel
participará da primeira ressurreição, terá ressurgido e sido glorificado no dia
do arrebatamento da Igreja e, por isso, não tem a menor possibilidade de sofrer
sequer o perigo de ser eternamente separado do Senhor (Ap.20:6).
- Por isso, mesmo diante da perspectiva do
martírio, vale a pena servir a Jesus, porque a morte física decorrente da fé em
Cristo Jesus, além de não significar qualquer separação de Deus, é passageira e
representa a certeza de que se está livre da morte que realmente importa, ou
seja, a morte espiritual.
- Foi por isso, aliás, que o Senhor Jesus disse,
certa feita, que devemos temer quem pode matar a alma e não quem pode matar o
corpo (Mt.10:28). O diabo, quando muito, pode matar o corpo, mas jamais poderá
matar a alma. Quem o faz é o dono da vida, ou seja, Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Por isso, temamos a Cristo, temamos a Deus, ainda que isto custe
as nossas vidas físicas.
OBS: “…O diabo pode prender os corpos dos servos de
Deus, mas não suas almas nem seus espíritos, que podem deixar os seus corpos
encarcerados e votar às regiões celestiais sentindo o doce clima da gloriosa
presença do Senhor.…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.17).
- Somente quem tem a visão da eternidade, somente
quem está em comunhão com o Senhor Jesus e já morreu para as coisas desta vida
pode desfrutar desta convicção e desta certeza. É esta a sua situação, amado
irmão? Sejamos, pois, fiéis até a morte e esperemos o dia em que trocaremos as
nossas cruzes, os nossos sofrimentos pela coroa que o Senhor nos reserva nos
céus. Amém!
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